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Mendigo pegando resto de comida em frente ao Estádio mais caro da Copa FIFA em Brasília: R$ 1,7 Bilhão |
"As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-se num curso comum, de forma que a unidade da vida não pode ser mais restabelecida. A realidade considerada parcialmente reflete em sua própria unidade geral um pseudo mundo à parte, objeto de pura contemplação. A especialização das imagens do mundo acaba numa imagem autonomizada, onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo." (Guy Debord)
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Torcedor em frente ao Estádio Mané Garrincha em Brasília |
No Estádio de Brasília, denominado pela FIFA nas transmissões de TV de "Estádio Nacional", mas conhecido e chamado pelos brasilienses de "Estádio Mané Garrincha", foi palco nesta quinta-feira (26/06) do jogo entre Portugal e Gana, valendo vaga para as oitavas de final. O jogo foi marcado pelas situações mais hilariantes do Mundial de Futebol até aqui (menos, é claro, do que mordida do atacante Suárez no rival italiano). Dias antes do jogo contra Portugal, os jogadores de Gana exigiram o pagamento adiantado pelo uso de suas imagens na Copa, no valor de 3 milhões de dólares a serem divididos entre todos os jogadores. E segundo as exigências, o valor a ser pago devia ser somente em espécie e não em depósito eletrônico, pois segundo informou os jornais da cidade (Correio Brasiliense, p.03, de 26/06/2014), muitos deles nem sequer possuíam contas bancárias, e, segundo relatam, é comum em Gana os pagamentos serem efetuados e aceitos na maioria das vezes somente em dinheiro. Um avião aterrissou na capital federal com o montante e foi distribuído aos jogadores ainda na véspera do jogo. Pelo fato de exigirem o valor somente em espécie, o acontecimento se tornou explícito e a matéria se tornou capa de vários jornais no Brasil no mundo.
Tal episódio, em primeiro lugar, mostra de forma escancarada o que de fato acontece nos bastidores de uma Copa do Mundo, ou seja, cartolas e presidentes de federações explorarem ao máximo as relações financeiras em relação aos seus subalternos, os jogadores. Talvez, se Federação de Futebol de Gana, não pagasse o valor de forma adiantada, os atletas nunca veriam sequer a cor do dinheiro após o fim da Copa. Em segundo lugar, mostra também a relação mercadológica que se tornou o futebol no mundo inteiro, e que é amplificado e explícito num evento de Copa do Mundo, onde o item que se torna menos importante e desprezível é de fato o próprio futebol, sendo o que realmente interessa é simplesmente o lucro e o retorno financeiro do espetáculo. Dentro desta lógica torcedores se transformam em clientes em potencial e os jogadores em importantes atores do futebol-businness.
O futebol atual, em era de globalização, se transformou em uma das mercadorias mais caras e rentáveis da história da humanidade. As construções de mega arenas, os exagerados salários dos grandes craques, o alto valor dos ingressos, as milionárias transações sobre as transmissões do espetáculo-futebol, contrastam no país da Copa, com milhares de jogadores profissionais do campeonato brasileiro que ganham menos de um salário mínimo por mês (R$ 724,00), escolas sem quadras de esporte, praças de esportes abandonadas e sucateadas e ainda com professores de escolas públicas (incluindo também os professores de Educação Física) que ganham menos de R$ 1.500,00 por mês de salário no Brasil.
A imagem da seleção de Gana contando os dólares vista através da janela do hotel em Brasília e ainda o lance pífio de Cristiano Ronaldo, após o fim do jogo, se olhando continuamente e de forma narcisista para o telão do Estádio (grande "sacada" dos seus patrocinadores) revelam o fetiche da mercadoria denominada de futebol espetáculo, a transformação do esporte em show-midiático a ser consumido ao vivo por bilhões de espectadores-clientes em todo o mundo. O fetiche que faz do futebol não mais um jogo ou simples esporte, mas em uma espetacularização midiática global, com recursos tecnológicos de última geração capazes de transformar os estádios em verdadeiros "reality shows", os jogadores em mercenários e os dirigentes em verdadeiros vampiros e saqueadores.
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Homens catam latinhas em frente ao Estádio mais caro do mundo: R$ 1,7 Bilhão |
Os Feitiços lançados pelo grande chefe religioso de Gana, Nana Kwaku Bonsam, que ficou famoso ao publicar na internet a autoria da lesão no joelho de Cristiano Ronaldo através de suas magias e mandingas, não se igualam ao poder do "feitiço-fetiche" da mercadoria quando o assunto é o futebol espetáculo. O fetiche da mercadoria futebol enfeitiçou nações inteiras em nome da exploração e do lucro, sob o falso discurso de "legados", "visibilidade", "obras", "turismo" e "prestígio", enganam e destroem a vida de brasileiros que vivem à margem da sociedade, sem saúde, educação e sem lazer. Este tipo de feitiço não sacrifica apenas animais ou simples aves como aquele, no cerimonial fetichista do capital internacional, representado pela FIFA, o alvo de sacrifícios são na verade milhões de seres humanos, que perderam suas vidas nas obras de construções de estádios, com a remoção de milhares de famílias de suas casas em nome da especulação imobiliária promovida pela Copa e de estudantes criminalizados e presos em manifestações populares em todo o Brasil.
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Torcedores ganeses sem ingressos em frente ao Estádio em Brasília |
Ao se chegar no Estádio Mané Garrincha em Brasília para o confronto entre PORTUGAL X GANA, se viam centenas de torcedores do lado de fora do estádio, brasileiros, portugueses e ganeses. Muitos moradores das cidades satélites vão ao Estádio, mesmo sem possuirem o ingresso, apenas para contemplarem o movimento (feitiço) do loado de fora. O barulho amplificado no teto do estádio com os gritos das torcidas, permite até mesmo acompanhar o placar do jogo, mesmo sem ver nada do que acontece do lado de dentro.
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Torcedores ganeses em Brasília |
Garis, voluntários, vendedores ambulantes disfarçados com suas caixas dágua e de cerveja, bombeiros, estudantes, curiosos, catadores de latinhas e torcedores que se misturam do lado de fora do estádio, debaixo das sombras dos coqueiros de macaúbas que circundam o estádio, num verdadeiro estado contemplativo e de êxtase, todos enfeitiçados e atônitos, mesmo do lado de fora, sem campo e sem bola, mas cercados por um número infinitamente maior de policiais do choque e da cavalaria, prontos para avançar e atacar sobre os excluídos da Copa.
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A Copa é só para os ricos! Para os pobres: o Choque e a Cavalaria |
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